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sábado, 22 de maio de 2021

A linguagem na filosofia moderna

 1.     A LINGUAGEM NO INÍCIO DA IDADE MODERNA

 

1.    Introdução

 

No período moderno, a preocupação é com o conhecimento as origens das ideias. Há menos concentração no campo da lógica. Temos duas obras que abordam o problema da linguagem: o Ensaio acerca do entendimento humano, de 1690, de John Locke, e Ensaio sobre o entendimento das línguas, de, 1781, de Jean-Jacques Rousseau.  Além desses dois autores, podemos encontrar também o problema da linguagem em Thomas Hobbes, em Descartes e na lógica de Port Royal.

              Thomas Hobbes trata do nominalismo afirmando que não há entidades universais reais; universal é a denominação do conjunto de todas as coisas; as coisas são individuais; discurso mental e discurso verbal; a linguagem serve para expressar pensamentos; o significado das palavras não basta. Na expressão, valem o contexto, o lugar e os gestos.

Descartes considera a linguagem como expressão imperfeita do pensamento e sem valor decisivo para o conhecimento. Ao comparar os ouvintes com os surdos-mudos, Descartes conclui que não há um mérito exclusivo na palavra para expressão do pensamento visto que os surdos-mudos criar signos para se comunicarem. A preocupação de Descartes se volta para o pensamento e a razão. Ele chega até rejeita a ideia de criar uma língua universal para corrigir as imperfeições das línguas naturais. Ela para uso nas ciências.[1]

Os pensadores Antoine Arnauld e Pierre Nicole da escola de Port Royal, a linguagem tem a dupla função de representar a realidade e tornar a comunicação possível. As palavras correspondem às ideias e estas representam a realidade. Ao convencionalismo, há que se entender que os significados não são arbitrários.[2]

 

2.        John Locke e sua teoria semântica de tipo empirista

 

 Os escolásticos colocavam o problema da linguagem dentro da lógica e da gramática, Locke o associa ao problema epistemológico. A linguagem é vista como um meio de expressão do pensamento, sem ela não seria possível comunicar o conhecimento e nem resolver os problemas de ordem social e moral. A postura de Locke é convencionalista: “a necessidade da comunicação pela linguagem leva os homens a um acordo quanto ao significado das palavras comuns, dentro de certos limites toleráveis”.[3] Há diversidade de línguas porque os povos criam convenções sobre as palavras. Isso significa também que as palavras não conseguem exprimir a essência das coisas.

As palavras são convenções, mas correspondem às ideias que estão na mente. O significado das palavras são experiências subjetivas não tem validade universalidade.  No entanto, elas conseguem representar tanto experiências quanto ausência de experiências. Diferentes pessoas podem pensar nuances e sentidos diferentes sobre uma mesma palavra proferida. A linguagem possui imprecisão e ambivalência. Não há correspondência exata entre signo e ideia. Não há, em outras palavras, um nexo necessário entre linguagem e realidade. As noções gerais, “os universais” dos escolásticos, “não comportam a existência real das coisas, mas são criaturas e invenções do entendimento, formadas por ele para seu próprio uso e se referindo apenas a sinais, quer palavras, quer ideias.”[4]

A abstração que generaliza as ideias acontece pela separação das ideias das circunstâncias de espaço e de tempo e as demais ideias que as prendem a uma existência particular. Por causa desse comportamento, as ideias podem representar mais de um indivíduo. O problema dos universais é tomado como “invenções do entendimento” para conseguir representar uma coletividade de coisas por meio de ideias gerais.  Locke acolhe a posição nominalista. A diversidade de coisas exigira uma infinidade de palavras, então, recorre-se a termos gerais para realizar a função da comunicação.

A linguagem é canal necessário do conhecimento. As imperfeições linguísticas não tiram o mérito de sua função. A superação dos inconvenientes da linguagem pode ser feita pela análise semântica cuidadosa do processo de construção de significados das palavras, observando como das sensações simples se chegam aos significados complexos e abstratos.

Toda a teoria semântica de John Locke tem como finalidade analisar a linguagem para dar segurança ao processo cognitivo:

 

Aqueles que pretenderem conduzir o seu entendimento corretamente não devem tomar nenhum termo como correspondendo [standing for] a nada até que tenham uma ideia disso. Uma palavra pode ser usada como se correspondesse a uma coisa real [a real being]; entretanto, se aquele que lê não for capaz de formular nenhuma ideia clara desta coisa, neste caso a palavra será certamente para ele um mero som vazio sem significado.[5]

 

Na atividade científica, o pesquisador precisa estar atento às imprecisões da linguagem para estas não se tornem fontes de erro. A análise semântica deve sempre acompanhar esse processo. Locke adota como regras a observação da reconstrução dos significados, o contexto das palavras e o uso técnico das palavras na ciência em contraposição ao uso ordinário.

              Para resumir, John Locke pensa a semiótica como parte da filosofia; as ideias existem antes da linguagem; para haver linguagem teve de existira concepção anterior; a linguagem é privada; as palavras se referem a coisas no mundo; conceitos universais são formados a partir de ideias particulares e ideias gerais (ideias simples + ideias simples).

 

3.    Jean-Jacques Rousseau e a questão retórica

 

     O filósofo Rousseau escreve a linguagem procurando descrever o seu processo evolutivo. Ele diz que a linguagem surgiu como necessidade de expressão das emoções e que evoluiu desde um grito instintivo até formas mais evoluídas de expressão como as palavras. A linguagem tem a função de encurtar distâncias. Os seres humanos alcançam os outros por meio do movimento e da voz. O movimento se limita ao “cumprimento do braço”, mas a voz pode alcançar tão longe quanto o “raio visual”.[6] Para Rousseau, os gestos são naturais, mas a fala é uma convenção cultural.

     As línguas possuem a mesma origem da música. A sofisticação da linguagem a fez perto o nexo com a natureza. A linguagem original se assemelha a música e era capaz de tocar as emoções do interlocutor. Depois, ela passa para uma fase de normatização por influência dos acontecimentos sociais. Com isso, a linguagem perdeu essa capacidade de tocar as emoções.

     Para Rousseau, então, a linguagem está associada às paixões; na sua origem estão a palavra, a poesia e o canto; a primeira linguagem é o grito da natureza; para as coisas distantes, o homem primitivo usava o gesto; a abstração é um processo penoso; primeiro veio a fala, depois as ideias gerais. Rousseau deslocou o debate da linguagem da lógica para retórica. Os escolásticos estavam preocupados com a expressão correta das coisas, o pensador francês foca nos efeitos afetivos da comunicação.

 

REFERÊNCIAS:

 

LOCKE apud MARCONDES, Danilo. Textos básicos de linguagem: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

 

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

 

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de linguagem: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

 

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. P. 260.

 

SILVA, Lucas Duarte. Filosofia da Linguagem. Indaial: Uniasselvi, 2013, p. 11-26.

 



[1] MARCONDES, 2010, p. 37.

[2] MARCONDES, 2010, p. 42.

[3] LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

[4] LOCKE, 1999. [Livro II, cap. III, 11].

[5] LOCKE apud MARCONDES, 2010, p. 55.

[6] ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. P. 260.

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