ALGUMAS QUESTÕES SOBRE ÉTICA
NA OBRA A POTÊNCIA DE EXISTIR DE
MICHEL ONFRAY
As
notas a seguir foram tomadas a partir da leitura da segunda parte da obra “A
Potência de Existir” de Michel Onfray. O filósofo francês aborda o problema da
ética para uma sociedade pós-cristã.
1. Necessidade de uma ética estética
Depois
das guerras sangrentas do século XX conceber uma alma bela, inativa e impotente,
conforme a tradição, é algo irrealizável. Depois do Iluminismo, ultrapassamos a
ética do herói e do santo para chegarmos à ética do sábio.[1]
A
ética ocidental é presa à teologia. O fundamento da moral é Deus. Mas a questão
é outra. O homem tem de prestar contas de seus atos aos seus semelhantes e não
ao outro. A filosofia e a teologia tradicionais consideram a moral a partir da
alma, porém, ética é uma questão de corpo.
O
dualismo cartesiano substância pensante/substância extensa teve seu tempo,
agora o homem é neuronal. A ética é produzida e não dada. O bem e o mal não
existem a priori. A moral não é uma tarefa teológica entre homem e Deus, mas da
relação entre homens.
O
outro não é um rosto, como querem os lévinasianos, mas um conjunto de sinais
nervosos ativos em um aparelho neuronal. A educação moral se faz a partir do
adestramento dos neurônios.
“O
indivíduo construído pela sociedade e a sociedade construída pelo indivíduo se
nutrem e se modificam substancialmente”.[2] A
solução para a educação é a construção de um cérebro ético.
2. A ética cristã e a ética
hedonista
Michel
Onfray ao propor uma ética estética faz as seguintes considerações sobre a
moral cristã: A ética cristã convida a amar o próximo como a si mesmo por amor
a Deus. O outro não é visto como um fim em si mesmo, mas como uma condição para
dizer que ama a Deus.[3] O
filósofo considera que este tipo de ética se mostrou inútil no episódio de
Auschwtiz por provar a insensatez de amar o próprio algoz.
Diferentemente
da relação triangular da moral cristã, Onfray propõe uma ética fundada sobre o
Eu. E não fala das virtudes, mas das ações. Portanto, não haveria amizade, mas
prova de amizade. Assim se segue com as demais virtudes. Ética não se faz com
conceitos puros, é uma questão prática. O outro é devedor de esforço e de
responsabilidade dentro do esquema ético.
Nas
escolhas morais, o filósofo cita o cálculo de Epicuro: Não ceder a nenhum
prazer se este deve ser pago mais tarde com um desprazer. Portanto, evitar o
prazer instantâneo. A soma dos prazeres deve ser sempre superior à dos
desprazeres.
Trata-se
de uma ética dinâmica, baseada em casos concretos. E se educa para uma ética
assim, praticando-a. o hábito implica o adestramento neuronal. A prática da
cortesia abre espaço para tantas atitudes de abertura ao outro.[4]
REFERÊNCIA
ONFRAY, Michel. La Potenza di Esistere: Manifesto edonista.
Milano: TEA, 2009.
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