1. A LINGUAGEM NO INÍCIO DA IDADE MODERNA
1. Introdução
No período moderno, a
preocupação é com o conhecimento as origens das ideias. Há menos concentração
no campo da lógica. Temos duas obras que abordam o problema da linguagem: o
Ensaio acerca do entendimento humano, de 1690, de John Locke, e Ensaio sobre o
entendimento das línguas, de, 1781, de Jean-Jacques Rousseau. Além desses dois autores, podemos encontrar
também o problema da linguagem em Thomas Hobbes, em Descartes e na lógica de
Port Royal.
Thomas Hobbes
trata do nominalismo afirmando que não há entidades universais reais; universal
é a denominação do conjunto de todas as coisas; as coisas são individuais;
discurso mental e discurso verbal; a linguagem serve para expressar
pensamentos; o significado das palavras não basta. Na expressão, valem o
contexto, o lugar e os gestos.
Descartes considera a
linguagem como expressão imperfeita do pensamento e sem valor decisivo para o
conhecimento. Ao comparar os ouvintes com os surdos-mudos, Descartes conclui
que não há um mérito exclusivo na palavra para expressão do pensamento visto
que os surdos-mudos criar signos para se comunicarem. A preocupação de
Descartes se volta para o pensamento e a razão. Ele chega até rejeita a ideia
de criar uma língua universal para corrigir as imperfeições das línguas
naturais. Ela para uso nas ciências.[1]
Os pensadores Antoine
Arnauld e Pierre Nicole da escola de Port Royal, a linguagem tem a dupla função
de representar a realidade e tornar a comunicação possível. As palavras
correspondem às ideias e estas representam a realidade. Ao convencionalismo, há
que se entender que os significados não são arbitrários.[2]
2.
John
Locke e sua teoria semântica de tipo empirista
Os escolásticos colocavam o problema da
linguagem dentro da lógica e da gramática, Locke o associa ao problema
epistemológico. A linguagem é vista como um meio de expressão do pensamento,
sem ela não seria possível comunicar o conhecimento e nem resolver os problemas
de ordem social e moral. A postura de Locke é convencionalista: “a necessidade
da comunicação pela linguagem leva os homens a um acordo quanto ao significado
das palavras comuns, dentro de certos limites toleráveis”.[3] Há
diversidade de línguas porque os povos criam convenções sobre as palavras. Isso
significa também que as palavras não conseguem exprimir a essência das coisas.
As palavras são
convenções, mas correspondem às ideias que estão na mente. O significado das
palavras são experiências subjetivas não tem validade universalidade. No entanto, elas conseguem representar tanto
experiências quanto ausência de experiências. Diferentes pessoas podem pensar
nuances e sentidos diferentes sobre uma mesma palavra proferida. A linguagem
possui imprecisão e ambivalência. Não há correspondência exata entre signo e
ideia. Não há, em outras palavras, um nexo necessário entre linguagem e
realidade. As noções gerais, “os universais” dos escolásticos, “não comportam a
existência real das coisas, mas são criaturas e invenções do entendimento,
formadas por ele para seu próprio uso e se referindo apenas a sinais, quer
palavras, quer ideias.”[4]
A abstração que
generaliza as ideias acontece pela separação das ideias das circunstâncias de
espaço e de tempo e as demais ideias que as prendem a uma existência
particular. Por causa desse comportamento, as ideias podem representar mais de
um indivíduo. O problema dos universais é tomado como “invenções do entendimento”
para conseguir representar uma coletividade de coisas por meio de ideias
gerais. Locke acolhe a posição
nominalista. A diversidade de coisas exigira uma infinidade de palavras, então,
recorre-se a termos gerais para realizar a função da comunicação.
A linguagem é canal
necessário do conhecimento. As imperfeições linguísticas não tiram o mérito de
sua função. A superação dos inconvenientes da linguagem pode ser feita pela
análise semântica cuidadosa do processo de construção de significados das
palavras, observando como das sensações simples se chegam aos significados
complexos e abstratos.
Toda a teoria semântica
de John Locke tem como finalidade analisar a linguagem para dar segurança ao
processo cognitivo:
Aqueles
que pretenderem conduzir o seu entendimento corretamente não devem tomar nenhum
termo como correspondendo [standing for]
a nada até que tenham uma ideia disso. Uma palavra pode ser usada como se
correspondesse a uma coisa real [a real
being]; entretanto, se aquele que lê não for capaz de formular nenhuma
ideia clara desta coisa, neste caso a palavra será certamente para ele um mero
som vazio sem significado.[5]
Na atividade
científica, o pesquisador precisa estar atento às imprecisões da linguagem para
estas não se tornem fontes de erro. A análise semântica deve sempre acompanhar
esse processo. Locke adota como regras a observação da reconstrução dos
significados, o contexto das palavras e o uso técnico das palavras na ciência
em contraposição ao uso ordinário.
Para resumir, John
Locke pensa a semiótica como parte da filosofia; as ideias existem antes da
linguagem; para haver linguagem teve de existira concepção anterior; a
linguagem é privada; as palavras se referem a coisas no mundo; conceitos
universais são formados a partir de ideias particulares e ideias gerais (ideias
simples + ideias simples).
3.
Jean-Jacques
Rousseau e a questão retórica
O filósofo Rousseau escreve a linguagem
procurando descrever o seu processo evolutivo. Ele diz que a linguagem surgiu
como necessidade de expressão das emoções e que evoluiu desde um grito
instintivo até formas mais evoluídas de expressão como as palavras. A linguagem
tem a função de encurtar distâncias. Os seres humanos alcançam os outros por
meio do movimento e da voz. O movimento se limita ao “cumprimento do braço”,
mas a voz pode alcançar tão longe quanto o “raio visual”.[6]
Para Rousseau, os gestos são naturais, mas a fala é uma convenção cultural.
As línguas possuem a mesma origem da música.
A sofisticação da linguagem a fez perto o nexo com a natureza. A linguagem
original se assemelha a música e era capaz de tocar as emoções do interlocutor.
Depois, ela passa para uma fase de normatização por influência dos
acontecimentos sociais. Com isso, a linguagem perdeu essa capacidade de tocar
as emoções.
Para Rousseau, então, a linguagem está
associada às paixões; na sua origem estão a palavra, a poesia e o canto; a
primeira linguagem é o grito da natureza; para as coisas distantes, o homem primitivo
usava o gesto; a abstração é um processo penoso; primeiro veio a fala, depois
as ideias gerais. Rousseau deslocou o debate da linguagem da lógica para
retórica. Os escolásticos estavam preocupados com a expressão correta das
coisas, o pensador francês foca nos efeitos afetivos da comunicação.
REFERÊNCIAS:
LOCKE apud
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de
linguagem: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
LOCKE, John. Ensaio
sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
MARCONDES,
Danilo. Textos básicos de linguagem:
de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
ROUSSEAU,
Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. P. 260.
SILVA,
Lucas Duarte. Filosofia da Linguagem.
Indaial: Uniasselvi, 2013, p. 11-26.