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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Evangelho de Tomé


 LANÇAMENTO DO LIVRO “O EVANGELHO DE TOMÉ:
A OUTRA FACE DE JESUS”

Neste fim de ano, estarei lançando pela Fonte Editorial minha pesquisa sobre o Evangelho de Tomé. Trata-se de um importante documento para se conhecer o cristianismo primitivo. Neste livro, procurei analisar a identidade de Jesus a partir da perspectiva do autor e da comunidade de Tomé. O objetivo é contribuir com a difusão de literatura sobre o cristianismo primitivo no Brasil. Mais informações: joaristides@gmail.com.





segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Epistemologia


UMA EPISTEMOLOGIA DAS CRENÇAS COLETIVAS: VERDADE E APARÊNCIA NAS POSTAGENS EM REDES SOCIAIS

José Aristides da Silva Gamito[1]

1. A situação das postagens com conteúdos políticos

Os julgamentos das ações humanas são empreitadas que comportam riscos. Principalmente, quando se trata de questões coletivas. As redes sociais trouxeram à tona uma discussão de suma importância. Ela diz respeito sobre como podemos julgar uma situação estando distante das ocorrências. Considerando este debate ao extremo, podemos perguntar se as redes sociais são mídias confiáveis para serem tomadas como “fontes” de notícias. Ou se podemos formar juízos confiáveis a partir delas. Dentre muitos aspectos que podem ser abordados sobre esta questão, quero levantar uma breve discussão sobre os juízos políticos.
As postagens em redes sociais, intimamente chamadas de posts, são gêneros textuais concisos, às vezes, aparecem na forma indireta de compartilhamentos de informações de terceiros. Como são breves, dependem de uma mensagem bem clara e objetiva visto que ninguém consegue dizer tudo com um número reduzido de palavras. Muitas vezes, as pessoas não usam suas palavras, mas adotam frases de terceiros, ou utilizam links de textos de terceiros também para transmitir algum posicionamento.
Até neste ponto, não há problemas porque a natureza funcional das redes sociais é esta. Trata-se de uma comunicação rápida, concisa.  Porém, a questão torna-se muito complexa quando os usuários da internet começam a formar juízos a partir de uma ou de uma sequência de postagens. As recentes e famigeradas fakenews ganham força quando as pessoas, dentro deste emaranhado de informações, tomam as informações que chegam até elas como verdade. Mas estas informações foram replicadas muitas vezes, acriticamente, até chegar a determinado receptor que faz delas uma verdade. Nestas situações, pouco se pergunta sobre as condições que geraram a informação. Quem é o fiador daquela verdade? Elas foram geradas com quais intenções? Como foi obtida a informação?
Outro ponto que quero levantar é sobre a reação dos internautas sobre o perigo das fakenews. Estou vislumbrando estas reações no campo político. As pessoas passaram a utilizar a classificação de fakenews para esvaziar o discurso do oponente. Muitos já consideram, de antemão, que tudo que os simpatizantes do partido ou do político X postar no facebook ou no twitter é falso. Mas, pelo contrário, tudo que eles postam sobre o partido Y é verdadeiro. Em todas as etapas da veiculação de notícias nas redes sociais, faz-se necessária uma capacidade crítica que vença até mesmo as armadilhas das paixões partidárias. Se alguém passa a considerar que tudo que o outro disser é inválido, portanto, não há comunicação. Isso invalida a função de uma rede social, por exemplo.
Os juízos políticos veiculados em redes sociais são emitidos dentro de uma situação comunicativa conflituosa. Dentro da atual polarização política brasileira, os internautas adotaram uma “leitura da suspeita”.  A suspeita metódica é uma ferramenta válida para analisar conteúdos ideológicos, porém, quando a suspeita já se converte em juízo, há um embaraço para o conhecimento. As generalizações a partir de títulos de matérias sem a leitura completa das notícias é uma prática muito comum. Quando a suspeita sobre a comunicação do outro não envolve a suspeita sobre mim mesmo,  este procedimento é extremamente desfavorável. Portanto, a suspeita metódica é válida, mas a suspeita que se converte em conclusão, em sentença, é um obstáculo.

2. Os limites dos juízos sobre ações coletivas

Para ilustrar a dificuldade dos julgamentos de situações à distância e que envolvem juízos sobre ações de terceiros, vamos a um causo.

A vizinhança do bairro Mirandão viveu uma situação inusitada na manhã de um domingo. Joaquim entrou correndo para a sua garagem. Os vizinhos da direita, que ouviram ele discutir na véspera com sua esposa, concluíram: “Joaquim vai matar a sua mulher”. O vizinho da esquerda que estava vindo do bar, e o viu conversando com um rapaz, comentou com a mulher: “Joaquim bateu na cara de um moço na esquina e foi buscar uma arma”. Porém, depois de alguns minutos, Joaquim chega na cozinha todo suado e diz para a sua esposa: “Teresa, eu encontrei meu amigo de infância, o Zezinho na esquina, dei um abraço apertado nele, sacudi-o, falando, ‘cara, por que você some? Quanto tempo?’. Mas não tive o prazer de terminar a conversa, tive de vir correndo procurar um banheiro. Bateu uma dor de barriga forte!”.

Neste caso, dois grupos de pessoas interpretaram a ação de Joaquim a partir das informações que tinham. Quando julgamos determinadas ações a partir de suspeitas apressadas tendemos a tomar qualquer indício favorável à nossa tese como conclusivo. É, justamente, este tipo de interferência emotiva no juízo que leva os internautas a generalizar, formar preconceitos e rotular seus opositores políticos. A formação do juízo não depende exclusivamente da razão, as emoções participam conjuntamente. Mas, quando não se tem um critério claro no julgamento, as pessoas acabam odiando as outras porque estão convictas de que elas estão erradas e são “comparsas do mal”.  Mas cada um só tem conhecimento de uma parte do todo. Isso pode ir longe! Ainda mais quando se coloca uma boa dose de teoria conspiratória.
Estas situações que ocorrem na informalidade, podem do mesmo modo afetar as decisões maiores como o funcionamento das instituições. Na situação específica do embate ideológico bolsonarista-lulista, podemos verificar nas redes sociais como as análises de “suspeitas” obnubilam a razão e os critérios objetivos das pessoas. Elas acabam por perder boas oportunidades de contribuir para a melhoria da política porque trabalham em mão única: só veem os acertos de seu lado e os erros do outro lado.  Sempre quando eu disser isso, pense no vice-versa. Parece ser vergonhoso fazer a autocrítica, é como dar pontos para o inimigo. No fundo esta radicalização comunicativa, torna a comunicação bloqueada, o conhecimento parcial e a verdade inatingível.

3. Considerações finais

            As redes sociais tornaram-se um campo fértil para a pesquisa sobre as crenças coletivas. Principalmente, de como elas afirmadas e sua relação com a verdade. Enquanto, muitos estão perdidos no partidarismo e não podem dar conta dessas características porque precisam derrotar o opositor, estas oportunidades são boas para o pesquisador da epistemologia entender como funcionam estas crenças coletivas dentro do espaço das redes sociais. Fica por aqui apenas uma provocação inicial.


[1] Mestre em Ciências das Religiões (linha de pesquisa: Análise do Discurso), filósofo e professor de Teoria do Conhecimento.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Filosofia e morte


A FILOSOFIA DA MORTE:
A REFLEXÃO NECESSÁRIA SOBRE O SENTIDO DA MORTE

Prof. Me. José Aristides da Silva Gamito
Professor no SDNSR

1.    Introdução

A discussão filosófica envolve uma infinidade de assuntos, aliás, envolve tudo que diz respeito à vida do homem. A morte como tema filosófico apesar de pouco difundida, é uma discussão que não pode escapar ao trabalho do filósofo. Tudo que nós fazemos, o sentido que damos à nossa existência, tudo tem uma conexão com a relação morte/vida. Portanto, uma filosofia sobre a morte é necessária.
O desafio de se estudar a morte como tema filosófico é a natureza deste fenômeno. Uma filosofia da morte seria quase impossível visto que ninguém pode descrever a morte enquanto experiência. Quando experimentamos a morte, já não mais somos. Podemos falar apenas da morte dos outros, da possibilidade da nossa morte e como isso no afeta e determina o modo como vivemos. Portanto, mais do que uma filosofia da morte, podemos fazer uma filosofia sobre a morte.

2.    Questionamentos filosóficos sobre a morte

A morte é um acontecimento que foge à nossa tentativa de prendê-lo e de descrevê-lo. Por ser um objeto do estudo que não é apreensível, só podemos falar de uma filosofia sobre a morte e não da morte, como dissemos.  Para começo de conversa, a crença de cada pessoa definirá como ela entende a morte. A morte pode ser considerada o fim ou por ser entendida como transição para um novo estágio de vida. Mesmo com estas compreensões mais consoladoras, todos temem a morte, se angustiam por causa desta possibilidade e sofrem com a perda dos entes queridos.
Nós podemos apenas filosofar sobre a morte sempre tomando-a como possibilidade. Pois é uma experiência única que não dá a possibilidade para o filósofo de descrever ou de relatar suas impressões após o fato. Então, falamos sobre a morte dos outros. Nós assistimos a morte dos outros. O ser humano sofre com a possibilidade de sua morte, mas a morte do outro lhe causa muito mais sofrimento.
Segundo Epicuro, não devemos temer a morte porque ela não existe. Em outros termos, ela vive um jogo de esconde-esconde com o homem: “A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existe mais”.  Encontramos uma primeira característica do objeto de nosso filosofar: A impossibilidade de simultaneidade entre morte e homem. Epicuro toma este princípio para argumentar que não devemos temer a morte, enquanto vivemos devemos buscar o prazer. O hedonismo é a resposta para uma existência finita e incerta.
A consideração mais sábia diante da iminência da morte parece estar sintetizada na ode de Horácio: “Dum loquimur fugerit invida aetas: carpe diem, quam minimum credula postero”(Ode 1, 11,8), cuja tradução livre é “enquanto falamos, já terá fugido o invejoso tempo: colhe o dia que passa, confiando menos no de amanhã”. É um modo prudente de considerar a possibilidade da morte, enquanto, tudo não passa, cabe-nos aproveitar o máximo do momento que existe. Não podemos utilizar este princípio como se não existissem consequências éticas para os nossos atos. Mas para relembrar a nossa mortalidade e urgência em aproveitar o tempo, ele é muito valioso.

3.    O sentido da vida e o problema da imortalidade

O pós-morte é um desafio que tem várias respostas e nenhuma certeza. As certezas que existem não são de fundo lógico-demonstrativo, apenas questão de fé.   Muitos acreditam que a alma morre com o corpo, outros que ela não morre e até possui a chance de voltar a viver (reencarnação). O cristianismo, por exemplo, crê na ressurreição do corpo. Uns acreditam na ressurreição imediata e outros que ela acontecerá no “último dia”.
A discussão sobre a imortalidade gerou o dualismo. A herança da antiguidade grega que povoou toda a história do ocidente é que o homem é dividido em corpo e alma. Durante muito tempo, e ainda existe esta concepção, o pós-morte tinha aspecto de realidade maior que a vida presente. Tudo que se fazia era visando a vida pós-morte. O extremismo desta mentalidade foi o desprezo do corpo, da vida presente, em favor da vida além-túmulo.  Ou seja, a morte possui uma força que determina o sentido da vida. Ao contrário pouco nós vemos: A vida determinando o sentido da morte. No fundo, temos de dificuldade de aceitar a nossa condição de mortalidade.
Portanto, podemos colocar duas teses principais na relação entre a religião e o fenômeno da morte. A morte pode representar uma força centrípeta para a qual as ações humanas são empurradas para serem justificadas moralmente. Como, por exemplo, alguém faz o bem porque teme ir para o inferno. A segunda consideração é que a morte é uma força centrífuga. Isto significa que todas as ações humanas devem ser no sentido de ampliar, de engrandecer a vida. A morte continua sendo uma certeza inevitável, mas nenhum sentido da vida pode depender dela, ou ser projeto para além dela. Fora alguns movimentos materialistas, a história ocidental sempre foi formatada por ideias da morte como força centrípeta. Principalmente, com a herança dos monoteísmos e da justificação de todo o sentido da vida moral com conceitos transcendentais.
A noção de progresso contínuo, de história como um drama universal no qual o mal será derrotado no final, tudo representa a tese da morte como força centrífuga. Tudo se arrasta para a morte como um centro de forças onde a história será resolvida. O indivíduo passa a considerar os seus desejos e os seus projetos como parte de um sistema maior que transcende a sua morte. Como a realização do sentido da história residisse sempre no além-morte. A visão como força centrífuga, ao contrário, põe a vida no tempo presente e preserva tudo que representa a vontade de poder, de aumentar a vida (a posição de Nietzsche encaixa por aí).
Porém, a consideração desses sistemas de valores e de ideias de morte como força centrípeta consola os fracassos e as impossibilidades do indivíduo buscar o sentido da vida e sua realização pessoal. A mais crua realidade é que só podemos decidir nossa vida durante a vida. A transferência da decisão de sermos nós mesmos para o além-morte é um salto no abismo. O problema é que nem temos certeza nesta escuridão toda do abismo de que existem “abismo” e “escuridão”. No fundo pode ser uma inversão cruel toda narrativa de morte como força centrífuga.

4.    Considerações finais

     A morte é o objeto filosófico mais estranho. Pois todas as discussões que sejam realizadas são sempre sobre a vida em relação morte, ou seja, sobre a realidade em relação ao nada. Mas como a nossa cultura deposita um forte valor semântico para a morte como portal para outra vida, as reflexões se ampliam muito. Outra motivação de se filosofar sobre a morte é considerar a brevidade da vida assim como a iminência da morte como motivação para as nossas ações. É uma condição da qual não podemos fugir. É um tema que merece considerações mais sistematizadas. Esta apenas uma contribuição incipiente.

Referências

SAMOS, Epicuro de. Carta sobre a Felicidade. Tradução e apresentação de Álvaro Lorencini e de Enzo Del Carratore. São Paulo: UNESP, 2002.

HORÁCIO. Odes. Ode a Leucónoe. Livro I, 11.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

UERJ divulga cartaz da I Conferência Internacional "Mulheres na Filosofia Moderna"


Mais informações: Site do evento / Página do Facebook.

“O QUE É O ESCLARECIMENTO?”: NOTAS SOBRE O MANIFESTO KANTIANO

José Aristides da Silva Gamito


1.    Introdução

O artigo “O que é o Esclarecimento?” (Was ist Aufklärung?) é um texto clássico da filosofia que merece ser revistado em tempos de questionamento da liberdade de expressão. Trata-se de um texto do gênero manifesto publicado por Emmanuel Kant em 5 de dezembro de 1783. O contexto histórico é o movimento iluminista que aconteceu entre fins do século XVII e fins do século XVIII.
O tema principal do manifesto “O que é o Esclarecimento?” é o tratamento da liberdade das crenças e expressões das ideias individuais diante do espaço público e do Estado. Além de reivindicar o uso da razão, Kant distingue o dever funcional da crença individual, discute sobre os limites da revisão de crenças e de costumes e concebe uma ideia de espaço público para o exercício da razão.

2.    Apresentação do texto

O texto inicia com a definição de que o Esclarecimento (Aufklärung) é “a saída do homem de sua menoridade”. O pressuposto de abertura do texto é de que os homens são universalmente dotados de razão, mas o seu uso depende de uma decisão pessoal. A menoridade (Unmundigkeit) é a incapacidade de usar o próprio entendimento, deixando-se ser tutelado pelo outro (Vormund).
As causa da permanência dos homens na menoridade são a falta de coragem, de ousadia. A continuidade neste estado é mais cômoda. Se eles têm tutores para pensar, orientar e decidir por eles, é um a condição que poupa esforço. A transição para a maioridade é considerada perigosa e os tutores que se beneficiam de seus orientandos se aproveitam desta dependência. A supervisão dos outros é um exercício de poder que agrada a muita gente. Muitos são tentados a serem tutores alheios por causa desta mitificação da tutela. Há uma simbiose entre tutor e tutelado. Enquanto, o primeiro se envaidece e exerce seu controle sobre o segundo; este último sente-se protegido, acomodado. Este exercício do poder constitui vários vícios dos tutores. A menoridade se encaixa tão perfeitamente na vida de alguns homens que passa a ser “quase uma natureza”. Portanto, a saída desta condição é dolorosa. Kant insiste que, apesar das quedas, muitos “aprenderiam muito bem a andar”.
A permanência na menoridade é o procedimento do uso mecânico da razão, através de preceitos e de fórmulas. A falta de hábito no exercício livre da razão desencoraja muita gente a avançar em direção da maioridade.  A dependência dos tutores nos faz pensar que um povo não é capaz de marchar por si mesmo, mas existem muitos indivíduos que são capazes de pensamento próprio. Muitos tutores são capazes libertar seus tutelados quando admitem a possibilidade do pensamento autônomo. Assim como há tutelados que saem do jugo de seus tutores. Kant acredita que o processo do esclarecimento por si mesmo é lento. As revoluções podem mudar os regimes e as estruturas de poder, mas não podem reformar o pensamento das pessoas. Uma massa destituída de pensamento, após uma revolução, só terá seus preconceitos trocados.
A pedra angular do Esclarecimento é a liberdade. Neste ponto, Kant introduz o conceito de uso público da razão. Esta é a possibilidade do cidadão, independentemente de crenças pessoais, exercer publicamente sua razão em todas as questões. Muitos setores que exercem poder na sociedade querem apenas obediência e ação.  Kant cita exemplo do oficial, do financista e do sacerdote. Eles atuam em espaços onde a obediência torna-se mais conveniente do que o raciocínio. O uso privado da razão pode também contribuir para o progresso do Esclarecimento, mas sua atuação se amplia com o uso público.
Kant define “Entendo, contudo, sob o nome  de uso público de sua própria razão aquele que qualquer homem, enquanto sábio, faz dela diante do grande público do mundo letrado”. O uso privado acontece no exercício da função. Muitas profissões exigem mais obediência do que raciocínio. Porém, estes profissionais podem, por meio da literatura, raciocinar diante do grande público. A desobediência imediata impediria que muitas instituições funcionassem, mas enquanto desempenha as suas funções, nenhum cidadão pode ser impedido de fazer observações e de propor reformas. Sem esta liberdade nenhuma atividade humana progrediria.
Kant faz uma distinção do dever do funcionário da atuação do cidadão no espaço público. Um militar ou um sacerdote não podem desobedecer as ordens que recebe. Enquanto, membro de uma instituição o seu dever é cumprir ordens. Porém, estando em jogo a necessidade de sempre aperfeiçoar as instituições, todo cidadão sábio tem o dever de expor publicamente suas ideias contra a inconveniência ou a injustiça das imposições das ordens recebidas. Se houver uma ruptura entre o dever do funcionário e o dever do cidadão, o uso da razão não pode ser restringido. Neste sentido, Kant reconhece o dever funcional como uma necessidade de cada atividade humana. Mas ao mesmo tempo, concebe que no uso público da razão, esses funcionários são livres das obrigações funcionais para exercerem sua liberdade de pensamento.
As instituições têm, às vezes, necessidade de um “credo invariável” para se manterem. Mesmo que tentem exercer este poder, haverá sempre espaços para ampliação de conhecimento. As reformas e as rupturas vão naturalmente acontecer. O progresso, na opinião de Kant, é um movimento natural, impedi-lo é um crime. É necessário assegurar no uso público da razão a defesa do reparo das instituições.
            A inalteração das instituições permaneceriam asseguradas até que se compreendesse com profundidade a natureza das mudanças. Kant defende as reformas institucionais, de crenças e de costumes, mas considera que as mudanças devem ser prudentes. Além disso, defende a coexistência de pessoas com crenças novas e antigas dentro de uma mesma comunidade. A liberdade pública deve assegurar a coexistência de ordens novas e velhas. O Estado não poderia de modo nenhum fixar um modelo de crença do qual não se pudesse duvidar. Os princípios da democracia aparecem no manifesto de Kant ao falar de “votação”, “ainda que não unânime”, o direito de duvidar e a coexistência da diversidade de crença. Ele distingue a vontade do soberano da vontade geral do povo. E repele o uso da violência para unificar pensamentos e uso da censura aos escritos.
Em determinado ponto, Kant chega à pergunta: “vivemos agora uma época esclarecida?” Esta questão se torna atemporal porque pode ser repetida em outros momentos da história. A resposta da época de Kant é que faltava muito para se chegar a um esclarecimento ideal, mas cita um avanço do Estado através da figura de Frederico (Frederico II, rei da Prússia). E toma este exemplo como a forma ideal de procedimento do príncipe: Permitir a liberdade religiosa e moral. No seu tempo, a preocupação maior foi com a liberdade religiosa, menos com artes e as ciências. Porém, a mesma liberdade é necessária nestes dois campos. O Estado deve permitir o uso público da razão e a crítica do estado das coisas existentes.
O filósofo alemão termina o manifesto defendendo que a liberdade de espírito permite a um povo maior liberdade civil. A natureza do próprio homem é a liberdade e deve agir de acordo com ela.

Referência

KANT, Immanuel. Resposta à Questão: O que é o Esclarecimento? In: MARÇAL, Jorge (Org.). Antologia de textos filosóficos. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2009.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Universidade de Paderborn realizará Curso de Verão sobre mulheres filósofas


O departamento de História das Filósofas e Cientistas anunciou na sua página no facebook a programação do evento. Segue tradução: “Pelo terceiro ano consecutivo acontece o Curso de Verão Libori no Centro para a História das Mulheres Filósofos e Cientistas em Paderborn, na Universidade de Paderborn, realizada este ano a partir de 29 de julho a 2 de agosto. O objetivo deste ano Curso de Verão é fornecer uma plataforma para os especialistas apresentarem suas pesquisas sobre mulheres filósofas. O intercâmbio e a cooperação de cientistas com este interesse de pesquisa, especialmente as experiências e as possibilidades do envolvimento de filósofos em seus estudos, receberão uma ênfase especial.
O Curso de Verão Libori de 2019 no Centro para a História das Mulheres Filósofos e Cientistas será realizado sob o título "Filósofas em Estudo e Escolas”. Haverá uma seção em alemão e uma em inglês, as oficinas serão oferecidas em paralelo. Os participantes podem escolher em quais oficinas gostariam de participar.
Para mais informações sobre o Curso de Verão Libori podem ser encontrados no site: https://historyofwomenphilosophers.org/libori-summer-school-2019/
As oficinas da manhã serão na seção alemã de Sabrina Ebbersmeyer (Universidade de Copenhaga), Julia Lerius, Ana Rodrigues, Julia Muhl, Jessica Harmening e Ruth Hagen Gruber (todos da Universidade de Paderborn) para as filósofas Aisara, Hildegard de Bingen, Émilie du Châtelet , Olympe de Gouges, Charlotte Perkins Gilman e Gerda Walther.
As oficinas da tarde oferecem espaço para contribuições. Por favor, especifique no contexto de suas entradas com qual tópico, ou com qual filósofo você irá lidar. É necessário informar o que será abordado. O tempo é de 30 a 90 minutos disponíveis. Está aberto para você executar no estilo frontal ou para fazer sua oficina de conversação.
· Prazo: 5 de maio de 2019
· Tamanho: entre 500 e 2000 palavras
· Submissões por e-mail para contact@historyofwomenphilosophers.org
- Taxa da comunicação: em torno de 10 €.”
 

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