Qual
é o problema com a filosofia?
Prof. Me. José Aristides da Silva
Gamito
Professor no SDNSR
Um estudo do Ipea
(Instituto de Economia Aplicada) divulgado esta semana afirma que a presença de
filosofia e sociologia no Ensino Médio derruba notas de matemática. Os
organizadores da pesquisa afirmam que a adoção dessas disciplinas a partir de
2009 prejudicou a aprendizagem de matemática dos jovens. Incluem também o
prejuízo em redação e linguagens. A ocorrência é apontada com mais ênfase entre
estudantes de baixa renda.
Esta interpretação
atende à perspectiva pragmática e tecnicista da educação. O novo Ensino Médio
do atual governo quer retomar um modelo de currículo que prioriza apenas Língua
Portuguesa e Matemática. É um modelo que interessa muito ao mercado. E claro, à
classe política! Cidadãos que sabem resolver problemas matemáticos, mas não
sabem interpretar as questões sociais. Qual é o problema com as ciências
humanas? Vamos examinar o problema!
Pode-se pensar o
currículo de dois modos. Um currículo tecnicista que pretende treinar pessoas
para resolver problemas básicos e práticos. É um conceito de educação como
treinamento de técnicos para o mercado de trabalho. Neste currículo, o domínio
de ciências exatas e de linguagens é exigência fundamental. Já o outro modelo
seria um currículo que integra técnica e formação humana. Este inclui
necessariamente disciplinas que exploram o potencial técnico, ético e humano,
porque através dele se pretende formar pessoas que resolvam problemas técnicos,
mas também solucionem problemas éticos, sociais e políticos.
Quando se quer frisar
que as ciências humanas prejudicam a aprendizagem de matemática e linguagens,
na verdade, está querendo afirmar que é apenas a educação tecnicista que
funciona. Tal posição não corresponde aos conceitos contemporâneos de educação,
ela ainda é ranço do positivismo. O conceito de capital humano desenvolvido por
Theodore Schultz nos anos 60 lançou as bases da orientação tecnicista da
educação. Esta se torna um valor econômico e, portanto, educar pessoas equivale
a treiná-las para trabalhar. No Brasil, nesse mesmo período a universidade
passou a se aliar aos interesses da indústria.
Os esforços de reforma
da educação no período militar foram na direção de formar recursos humanos para
o desenvolvimento econômico dentro dos parâmetros da ordem capitalista. Isso
está expresso na Reforma Universitária de 1968 e na reforma educacional de 71.
Todas essas alterações na legislação educacional foram para atender tendências
capitalistas e de mercado. Este modelo só foi superado pela LDB de 1996.
Se formos considerar o caso das maiores
notas em matemática do Pisa 2015, veremos que o problema não é a filosofia ou a
sociologia. Cingapura obteve a maior nota em matemática no exame do Pisa. O
currículo do ensino secundário de Cingapura inclui a área de humanidades com as
disciplinas Estudos Sociais, História e Geografia. Do mesmo modo, o currículo de
Hong Kong que é a segunda maior nota de matemática do Pisa contém Educação
Humana, Social e Pessoal e Educação Artística. Todos eles envolvem disciplinas
de ciências humanas.
Transferir a culpa do
fracasso em matemática e linguagens dos alunos do ensino médio para duas
disciplinas apenas é sintoma de um olhar míope para a educação. Essas
disciplinas só entram no currículo no ensino médio e o estudo do Ipea não
considera as habilidades não desenvolvidas em matemática no ensino fundamental
quando não há concorrência da filosofia.
O problema está na base
da educação. Há pouco investimento do governo na base. A falta de investimento
em formação do professor, das condições de trabalho e salário; a infraestrutura
das escolas, a não utilização de tecnologia moderna no processo de letramento e
ensino de matemática, a ausência da família na vida escolar dos filhos. A
educação técnica sem a humana será deficitária!
Postado originalmente em: http://www.seminariocaratinga.com.br/SDNSR/publicacoes/filosofia/139-qual-e-o-problema-com-a-filosofia
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