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sexta-feira, 27 de abril de 2018

A filosofia no currículo do Ensino Médio

Qual é o problema com a filosofia?


Prof. Me. José Aristides da Silva Gamito
 Professor no SDNSR


Um estudo do Ipea (Instituto de Economia Aplicada) divulgado esta semana afirma que a presença de filosofia e sociologia no Ensino Médio derruba notas de matemática. Os organizadores da pesquisa afirmam que a adoção dessas disciplinas a partir de 2009 prejudicou a aprendizagem de matemática dos jovens. Incluem também o prejuízo em redação e linguagens. A ocorrência é apontada com mais ênfase entre estudantes de baixa renda.
Esta interpretação atende à perspectiva pragmática e tecnicista da educação. O novo Ensino Médio do atual governo quer retomar um modelo de currículo que prioriza apenas Língua Portuguesa e Matemática. É um modelo que interessa muito ao mercado. E claro, à classe política! Cidadãos que sabem resolver problemas matemáticos, mas não sabem interpretar as questões sociais. Qual é o problema com as ciências humanas? Vamos examinar o problema!
Pode-se pensar o currículo de dois modos. Um currículo tecnicista que pretende treinar pessoas para resolver problemas básicos e práticos. É um conceito de educação como treinamento de técnicos para o mercado de trabalho. Neste currículo, o domínio de ciências exatas e de linguagens é exigência fundamental. Já o outro modelo seria um currículo que integra técnica e formação humana. Este inclui necessariamente disciplinas que exploram o potencial técnico, ético e humano, porque através dele se pretende formar pessoas que resolvam problemas técnicos, mas também solucionem problemas éticos, sociais e políticos.
Quando se quer frisar que as ciências humanas prejudicam a aprendizagem de matemática e linguagens, na verdade, está querendo afirmar que é apenas a educação tecnicista que funciona. Tal posição não corresponde aos conceitos contemporâneos de educação, ela ainda é ranço do positivismo. O conceito de capital humano desenvolvido por Theodore Schultz nos anos 60 lançou as bases da orientação tecnicista da educação. Esta se torna um valor econômico e, portanto, educar pessoas equivale a treiná-las para trabalhar. No Brasil, nesse mesmo período a universidade passou a se aliar aos interesses da indústria.
Os esforços de reforma da educação no período militar foram na direção de formar recursos humanos para o desenvolvimento econômico dentro dos parâmetros da ordem capitalista. Isso está expresso na Reforma Universitária de 1968 e na reforma educacional de 71. Todas essas alterações na legislação educacional foram para atender tendências capitalistas e de mercado. Este modelo só foi superado pela LDB de 1996.
Se formos considerar o caso das maiores notas em matemática do Pisa 2015, veremos que o problema não é a filosofia ou a sociologia. Cingapura obteve a maior nota em matemática no exame do Pisa. O currículo do ensino secundário de Cingapura inclui a área de humanidades com as disciplinas Estudos Sociais, História e Geografia. Do mesmo modo, o currículo de Hong Kong que é a segunda maior nota de matemática do Pisa contém Educação Humana, Social e Pessoal e Educação Artística. Todos eles envolvem disciplinas de ciências humanas.
Transferir a culpa do fracasso em matemática e linguagens dos alunos do ensino médio para duas disciplinas apenas é sintoma de um olhar míope para a educação. Essas disciplinas só entram no currículo no ensino médio e o estudo do Ipea não considera as habilidades não desenvolvidas em matemática no ensino fundamental quando não há concorrência da filosofia.
O problema está na base da educação. Há pouco investimento do governo na base. A falta de investimento em formação do professor, das condições de trabalho e salário; a infraestrutura das escolas, a não utilização de tecnologia moderna no processo de letramento e ensino de matemática, a ausência da família na vida escolar dos filhos. A educação técnica sem a humana será deficitária!

Postado originalmente em: http://www.seminariocaratinga.com.br/SDNSR/publicacoes/filosofia/139-qual-e-o-problema-com-a-filosofia


 

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